Artigos da categoria “As boas plantas

Uma longa época de gladíolos floridos

Publicado em 21 de Junho de 2015

Gladíolo

O gladíolo é essencialmente uma flor de corte para decoração em casa, embora existam várias variedades que possam ser utilizadas com bom efeito no jardim. Num arranjo redondo de rosas, peónias ou dálias, os gladíolos darão beleza com os seus longos caules e flores elegantes.
Torna-se importante conseguir ter gladíolos para cortar durante um longo período, todo o Verão e até parte do Outono. Há pelo menos três formas de o conseguir.
O primeiro método de plantações sucessivas é muito utilizado também na horta. Pode-se utilizar a mesma variedade ou várias, começando no início da Primavera e continuando semanalmente ou de dez em dez dias, até ao início do Verão.
Um outro método, também utilizado na horta, é utilizar variedades de floração em épocas diferentes. Variedades que florescem cedo, cedo na meia-estação, tarde na meia-estação, tarde e muito tarde. Existem cerca de 12.000 variedades de gladíolos, mas muito menos disponíveis para o jardim. Este método oferece dificuldades de aplicação no nosso país, porque não só existe pouca informação sobre a época de floração, como a quantidade de variedades disponível é diminuta. Mesmo assim, podem-se conseguir bons resultados com alguma sorte, tentando encontrar umas 25 variedades no mínimo. Com algumas notas, pode-se melhorar muito os resultados da época seguinte.
Por fim, um método pouco conhecido pelo horticultor amador, mas que sempre foi utilizado pelos viveiristas profissionais de gladíolos. Consiste simplesmente em plantar bolbos de vários tamanhos de uma determinada variedade.
Os profissionais reconhecem três tamanhos de bolbos: Nº. 1 bolbos com 4cm ou mais de diâmetro; Nº. 2 bolbos com 3cm ou mais; Nº. 3 bolbos com 2,5cm ou mais; Nº. 4 bolbos com 2cm ou mais; Nº. 5 bolbos com 1,5cm ou mais; Nº. 6 bolbos de 0,6cm ou mais. Por vezes bolbos menores que os Nº. 6, são chamados Nº. 7 e os que não serão maiores que uma ervilha, bolbilhos.
Estes bolbos de diferentes calibres são plantados todos ao mesmo tempo, os maiores serão os primeiros a florir, o segundo tamanho talvez uma semana ou dez dias depois e assim sucessivamente até ao tamanho menor. Mesmo os Nº. 7 e até alguns bolbilhos podem chegar a florir. Se não florirem, ficarão com tamanho adequado para a época seguinte. As flores dos bolbos menores serão também menores que o normal e por vezes muito delicadas, ainda mais bonitas para pequenos arranjos.

Bibliografia

William, E. Clark. “A long season of gladiolus blooms.” Horticulture May 1. 1929: 221.

Pêra Marques Loureiro

Publicado em 20 de Março de 2015

Todos quantos sentem vibrar a alma em fremitos de enthusiasmo ante uma flôr explendida ou um vegetal de formas raras, se embriagam com o perfume suavissimo das mais bellas filhas dos tropicos e deliciam o paladar com os mais finos e saborosos fructos, deviam erguer uma estatua d’ouro a José Marques Loureiro, o mais notavel horticultor portuguez, a quem podem afoutamente dizer que devem tudo quanto faz a alegria dos jardins e a riqueza e opulencia das hortas e dos pomares. Com uma pertinancia admiravel, enthusiasta e infatigavelmente, em um honrado labutar de trinta annos, Marques Loureiro enriqueceu o paiz com o que de melhor e mais precioso havia no estrangeiro em plantas bôas e vegetaes raros, á custa, muitas vezes de sacrificios enormes, de largos e incomprehendidos dissabores.
Marques Loureiro nunca foi um negociante na verdadeira e interesseira accepção da palavra, mas sim um apaixonado sincero por todas as maravilhosas riquezas do mundo vegetal, as suas delicias de outr’ora, os seus amores d’hoje e de sempre.1

Por mais de uma vez se recusou a vender por bom preço plantas raras a que ligava particular estima, vendo-se ainda hoje nas opulentas estufas da Companhia Horticolo-Agricola, successora do Horto Loureiro, um valiosissimo Neottopteris nidus avis, que o finado rei D. Luiz a todo o custo quiz comprar, e que Marques Loureiro não vendeu ao monarcha, dizendo que se o rei tinha prazer em possuir o explenduroso feto, tambem com elle Marques Loureiro, se dava o mesmo e por isso não o cedia por preço algum.
Isto pinta fielmente Marques Loureiro, cavalheiroso e honrado como poucos, e que hoje deve estar ufano e alegre por vêr a pomologia portugueza opulentada com mais um fructo novo devido ao trabalho e aos esforços do grande horticultor portuguez, a Pera Marques Loureiro (Fig.) assim justa e dignamente baptisada por o snr. Jeronymo Monteiro da Costa, que se refere da seguinte fórma ao novo e precioso fructo:

Pêra Marques Loureiro

Pêra Marques Loureiro.

«As novas variedades só se podem obter por meio da sementeira, cercando as novas plantas de uma série de cuidados, e collocando-as, por assim dizer, em um meio artificial, de modo a contrariar as tendencias da natureza para a reversão ao typo primitivo.
É isto o que tem feito lá fóra os grandes pomologistas para obterem as variedades de fructos que hoje se encontram nos mercados, algumas d’ellas tão geralmente apreciadas.
Para se conseguir, porém bom resultado e necessario um trabalho constante durante muitos annos, e a maior parte das vezes, ao fim de longas fadigas, o horticultor encontra apenas uma desillusão: o novo vegetal não apresenta as qualidades almejadas, e quando muito é bom para servir de cavallo, mas, se porventura, uma só das plantas preenche as suas justas aspirações, se reune qualidades que a tornem apreciada, constituindo uma variedade nova, não é facil tambem imaginar-se a satisfação do horticultor por vêr coroado de bom exito o seu trabalho e por ler contribuido para augmentar o numero das boas variedades.
Esta satisfação acaba de ter o nosso notavel horticultor o snr. José Marques Loureiro, que, no fim de 12 annos de trabalho e cuidados, conseguiu vêr fructificar em 1892 uma pereira que tinha sido semeada em 1880 e cujos fructos magnificos, reuniam as qualidades de uma variedade de primeira ordem.
A semente que a produziu era proveniente da Pera de Congrès Pomologique.
A nova variedade, a que se deu o nome de Pera Marques Loureiro, em homenagem ao seu obtentor, foi lançada este anno pela primeira vez no mercado pela Companhia Horticolo-Agricola, hoje proprietaria do antigo Horto Loureiro.
A Pera Marques Loureiro é um fructo de tamanho regular, acima do mediano, de fórma turbinado-arredondada; pedunculo comprido, delgado, recurvo e implantodo em uma cavidade pouco profunda; pelle lisa, amarellada. A sua polpa e branca amarellada, finissima e completamente isenta de pedras até á pevide, muito fundente, succosa, amanteigada, assucarada e dotada de perfume muito agradavel. Finalmente, é uma pera de primeira qualidade, que se recommenda a todos os amadores de bons fructos.
Amadurece em Setembro, e a arvore é vigorosa e muito fertil.»
A Marques Loureiro as nossas felicitações sinceras pela sua preciosa obtenção, sem duvida alguma a mais valiosa da resumida pomologia nacional.

  1. Foi mantida a grafia da época. Estou muito interessado em saber se este fruto ainda existe hoje. Agradeço qualquer informação. []

Grande-cerejeira-branca, Prunus serrulata ‘Tai-haku’

Publicado em 20 de Março de 2015

Prunus serrulata 'Tai haku'
Prunus serrulata 'Tai haku'.

Detalhe da folha e a razão do nome “serrulata”.

Trata-se de uma árvore de porte médio com um hábito redondo, cuja principal característica são as suas inúmeras grandes flores brancas que a cobrem completamente na Primavera. Tai-haku significa “grandes flores brancas”, na verdade até 8cm de diâmetro, cerca do dobro do tamanho que as flores de cerejeira mais comuns.
No Outono, a folhagem torna-se bronze, com vários tons de laranja e vermelho, acrescentado mais um factor de interesse a esta adorável árvore.
Bem conhecida — até lendária —, no Japão através de registos históricos e gravuras, por algum motivo desapareceu no fim do século XVIII. Julgou-se perdida até que um exemplar foi descoberto por acaso em 1923 num jardim de Sussex, no Reino Unido. O dono mostrou ao capitão Collingwood Ingram (um especialista em cerejeiras japonesas) uma magnífica cerejeira com adoráveis flores brancas que Ingram não reconheceu, mas cortou ramos para a reproduzir que originaram plantas que foi passando a outros. Na sua seguinte viagem ao Japão, foi-lhe mostrado um livro de ilustrações botânicas do século XVIII onde reconheceu imediatamente a cerejeira de Sussex. Todas as cerejeiras Tai-haku, incluindo as existentes no seu país de origem, descendem deste exemplar.
Tem o Award of Garden Merit da RHS.

Cultivo

Não que seja estritamente necessário, mas como todas as cerejeiras, poda-se no Verão.

J F M A M J J A S O N D
Floração Floração Podar Podar Podar

Notas pessoais

2023

Começou a florir no dia 23 de Março.

Links de interesse

Sarah Raven sobre a Tai-Haku (The Telegraph)