Artigos da categoria “Chronica Hortícola

Auto-suficiente

Publicado em 22 de Março de 2023

Quintal

O quintal no fim do Inverno.


A seguir, disse ao homem: “Porque atendeste à voz da tua mulher e comeste o fruto da árvore, a respeito da qual Eu te tinha ordenado: ‘Não comas dela’, maldita seja a terra por tua causa. E dela só arrancarás alimento à custa de penoso trabalho, todos os dias da tua vida.
Produzir-te-á espinhos e abrolhos, e comerás a erva dos campos. Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de onde foste tirado; porque tu és pó e ao pó voltarás.”

—Génesis 3:16-19


O jornal The Guardian do Reino Unido, pergunta aos leitores que tamanho deve ter um terreno para uma família de quatro ser auto-suficiente. Em 1970 John Jeavons e a Ecology Action descobriram ou determinaram, que 370 metros quadrados são suficientes para sustentar uma pessoa com uma dieta vegetariana. Também se diz que durante o Verão bastam 10 metros quadrados por pessoa. As respostas variam entre os 40 metros quadrados até 2,5 hectares de John Seymour no livro Complete Book of Self-Sufficiency, mas que incluem animais e cereais.
Mas mantendo a questão apenas nos vegetais, na minha opinião serão uns 100 metros quadrados. Juntam-se árvores de fruto, frutos vermelhos, talvez uma pequena vinha e talvez uns 400 metros quadrados. Mas a questão na verdade tem pouco interesse, porque ser auto-suficiente é um trabalho a tempo inteiro, provavelmente para toda a família, o que certamente não irá acontecer. A agricultura de subsistência foi abandonada ou pelo menos é evitada o mais possível, não é por ser fácil.
O meu avô em cerca de 100 metros quadrados foi a pessoa mais auto-suficiente que conheci e incluía ramada que dava vinho para todo o ano e alguns animais. Eu, ocupando hoje o mesmo espaço que expandi para uns 200 metros quadrados nem para lá caminho. A mais do que ele tenho fruta, mas apenas uma videira e não tenho animais. É um trabalho que nunca acaba e que me dá a sensação de estar sempre atrasado. Ainda posso melhorar imenso a produtividade, mas só valerá a pena com uma estratégia capaz de conservação.
A minha “estratégia” de conservação passa quase exclusivamente por congelar. Tenho de fazer mais compotas, mais conservas, xaropes, secar atempadamente algumas culturas, desidratar outras… Tudo isso ocupa imenso tempo, exige organização, uma infinidade de frascos, tabuleiros de madeira, espaço para guardar tudo isso e um lugar fresco, sem muita humidade. É super difícil.
O mais interessante e viável seria uma pequena comunidade de amigos que se entreajudassem, trocassem colheitas e conservas, outra impossibilidade na vida citadina de hoje. Nunca serei auto-suficiente, o quintal é apenas o meu contributo mínimo para o ambiente e para uma alimentação mais saudável para a família. E já não é pouco (mas parece-me).

Links de Interesse

The Guardian
Ecology Action
Pantry Fields (antiga quinta de John Seymour)

A reordenação das revistas

Publicado em 4 de Março de 2018

Revistas Revistas Revistas

Mais um projecto para um dia de chuva. Tenho por aqui bastantes revistas, não só as que comprava regularmente como a Gardener’s World, Gardens, The English Garden ou, a preferida, Gardens Illustrated, como muitas outras que ou me apareceram à frente, ou encomendei pela internet, ou alguém me trouxe exemplares de um país distante.
A minha tendência é tê-las ordenadas por título e número (ano e mês) e a minha parte do cérebro que repele o desalinho, é assim que gosta. Mas ultimamente tenho vindo a pensar que no caso de revistas de jardinagem, uma actividade cíclica por natureza, faz mais sentido ordená-las por mês.
Ou seja, todas as que tenho de Janeiro todas juntas, independentemente da colecção, ordenadas por título e ano; as de Fevereiro todas juntas e assim sucessivamente, incluindo as revista em idiomas que nem compreendo, como o holandês ou japonês.
E assim fiz. Na prateleira não gosto tanto, os meus arquivadores “Gardens Illustrated” deixaram de ter lá os exemplares da revista e albergam uma aparente desordem, mas para a ler e reler, para as consultar na época em que preciso, é muito melhor. Revistas que não folheava provavelmente desde que as comprei, voltaram a ter uma nova vida e isso é bom.

Ainda o ácido na compostagem

Publicado em 20 de Março de 2016

Limão

Em tudo o que li sobre compostagem, em lado nenhum encontrei sustentação científica para aquilo que chamo um mito que é os restos dos citrinos acidificarem o composto. A única coisa que sei ter esse efeito são os restos de coníferas. No entanto, o senhor Monty Don num artigo recente para a Gardener’s World, diz que evita restos de citrinos por demorarem muito a degradarem-se e por serem ácidos o que “reduz a actividade das minhocas”. Não vou deixar de colocar as cascas dos citrinos na pilha, que nas épocas de laranjas são imensas e seria um desperdício deitar fora, mas faz algum sentido o que Monty Don diz. O ácido funciona como conservante e de facto talvez actue como repelente para as minhocas. No entanto, eu diria que os citrinos ao apodrecer não se mantêm ácidos durante muito tempo e a verdade é que se há bastante acidez nos limões, nas laranjas isso nem é inteiramente verdade, colocadas no compostor, desaparecem num ápice.

Actualizações

A Chronica Hortícola anterior, “A importância do jardim da frente” foi actualizada com uma magnífica ilustração de Pedro Burgos. Inaugura assim aquilo que eu espero vir a tornar-se um hábito: A utilização da ilustração em alguns dos textos. A ilustração editorial tem vindo a perder terreno neste país de grandes ilustradores, o que é uma pena porque é uma forma de comunicação muito especial, idiossincrática e rápida, presta-se a interpretações e a questões de gosto de uma forma que a fotografia não consegue.

A importância do jardim da frente

Publicado em 22 de Dezembro de 2015

A importância do jardim da frente

© 2016 Pedro Burgos.

Peter Seabrock considera os jardins da frente absolutamente cruciais, logo à partida por razões sociais. Se estamos lá fora na frente a tratar do jardim, vemos os vizinhos e outras pessoas, e temos oportunidade de as conhecer. As plantas mesmo num pequeno jardim da frente, oferecem abrigo para insectos e pássaros. Não precisa de ser nada muito complicado, algum solo, algumas plantas, uns vasos grandes e uma pequena árvore; talvez uma sebe, muitas flores e muita fragância o que sem dúvida nos alegrará a vida e a de muitos transeuntes. Além disso, precisamos de solo que absorva a água da chuva e ajude a drenar o excesso.
Em termos de segurança que nos dias de hoje é uma preocupação a ter em conta, podemos ter um jardim com caminhos com gravilha ruidosa, plantas espinhosas estrategicamente colocadas e luz com sensores de movimento. O tipo de vedação que vemos agora por todo o lado — alta e opaca —, na minha opinião é contraproducente. Não só não impede que os meliantes nos invadam o jardim e a casa, como depois de o fazerem ninguém os vê da rua e podem circular livremente para as malfeitorias que lhes apetecer. Essas vedações podem impedir olhares curiosos, mas também nos isolam da nossa rua e nos aprisionam dentro da nossa própria casa.

Razões para cultivarmos os nossos próprios alimentos

Publicado em 23 de Setembro de 2015

Raramente compensa economicamente. Quase toda a gente ganha numa hora o suficiente para comprar fruta e vegetais para toda a semana. Pode compensar para algumas famílias de baixo rendimento, mas para a maior parte de nós, não compensa. Portanto, não o fazemos pelo dinheiro.

Horta

Horta com feijão, favas, ervilhas, alface, entre outras coisas.

Frescura

A fruta e os vegetais colhidos na nossa horta são o que há de mais fresco. Não há nada de comparável.

Confiança

Sabemos exactamente como foram criados os alimentos. Apesar de podermos confiar noutros horticultores e em esquemas de certificação biológica, os nossos próprios métodos são para nós os mais certos.

Variedade

Cultivar é também um incentivo para comer mais alimentos frescos. Podemos cultivar o que mais gostamos e até variedades que há muito desapareceram do circuito comercial.

Exercício

Exceptuando os custos e ser sinal de uma vida sedentária, não há nada contra fazer exercício por fazer e ir até ao ginásio ou à piscina. Mas o trabalho ao ar livre, por vezes árduo, é insubstituível.

Comunidade

Além de melhorar a nossa vida individualmente, a jardinagem pode ajudar a construir a nossa comunidade. É pena em Portugal não se verem muitas hortas comunitárias (está a mudar muito, mas pelas razões erradas) e também nas escolas.

Espiritualidade

Cultivar frutas e vegetais é o único contacto que muitos de nós tem com a Terra. E somos participantes no ciclo da vida. O ambiente deixa de ser uma abstração quando trabalhamos o solo e ele se desfaz nas nossas mãos.

Futuro

Temos a satisfação de estar a fazer algo concreto e positivo para o futuro do nosso planeta. Muitas das nossas acções ecológicas tratam de não fazer algo: Não voar, não andar de automóvel, não comer tanta carne… Jardinar é algo que podemos fazer.